Publicado o Dossiê Masculinidades nos espaços-tempos educacionais

13-12-2025

Nos últimos trintas anos, pesquisas relativas a diversos campos do saber, como da educação, antropologia, sociologia, saúde coletiva, psicologia, educação física entre outras, têm se debruçado nos estudos sobre homens e masculinidades. Esse debate se intensificou na sociedade contemporânea, sobretudo a problemática sobre a desconstrução do que vem sendo convencionalmente chamado de “masculinidade tóxica”. Por meio dos estudos intersecionais, caminhamos para o entendimento de que as linhas de poder e de opressão são múltiplas e que não se pode compreender as masculinidades sem levar em consideração seus atravessamentos relativos às identificações de classe social, raça, orientação sexual, território e idade, como também as transmasculinidades e as masculinidades femininas.

Neste Dossiê nos interessa pensar em que medida os processos formativos escolares e não escolares, participam da circulação dos sentidos atribuídos às masculinidades na contemporaneidade. Destacamos que no campo da educação, as pesquisas sobre masculinidades se encontram em desenvolvimento e em busca de consolidação na sua vasta produção acadêmica sobre gênero e sexualidade. Suas interlocuções têm buscado diálogo com as vertentes teóricas críticas e pós-críticas, problematizando a multiplicidade de sentidos atribuídos ao masculino nas instituições educacionais, nos cotidianos escolares, nas práticas pedagógicas, nas políticas públicas de educação, nas pedagogias culturais, além do próprio atravessamento das tecnologias digitais em rede na constituição de diferentes saberes-poderes. Assim sendo, o presente número da revista reúne trabalhos que analisam e problematizam a produção social, histórica, política e cultural dos estudos sobre homens e masculinidades nos diversos campos do saber, por meio de contribuições que dialogam com as perspectivas críticas, pós-estruturalistas, pós-coloniais e decoloniais dos estudos sobre homens e masculinidades.

O Dossiê possui textos assinados por pesquisadoras/es de diversas partes do país, além de uma entrevista com Osmundo Pinho. O trabalho está organizado em sete eixos temáticos, a saber: 1 – Masculinidades, Raça e Interseccionalidades; 2 – Docência, Formação e Trabalho Educativo de Homens; 3 – Juventudes, Escolarização e Experiências Masculinas; 4 – Masculinidades dissidentes; 5 – Masculinidades nas práticas corporais; 6 – Violências, Controle e Intervenções Educativas; e 7 – Tecnologias digitais, Mídias e Cibercultura. Os mais de 70 textos que integram o Dossiê mostram um amplo conjunto de pesquisas sobre as masculinidades, evidenciando que há diferentes formas de ser-existir e tornar-se homem nos mais diferentes contextos sociais, dentro-fora da escola.

Os textos apresentam um panorama marcado por questões raciais, geracionais, pedagógicas, afetivas, territoriais e tecnológicas, compondo um mosaico rico e complexo de narrativas sobre as masculinidades. Ao articular debates sobre masculinidades negras, performances de gênero, trajetórias escolares e não-escolares, dissidências sexuais, violências, docência masculina, corporalidades esportivas e dinâmicas ciberculturais, o conjunto de textos evidencia que a masculinidade não é uma categoria fixa, mas marcada por processos em disputa. Os trabalhos do Dossiê Masculinidades nos espaços-tempos educacionais reafirmam a urgência de compreender as masculinidades em suas interseccionalidades, reconhecendo que raça, classe, sexualidade, território e geração afetam/moldam profundamente as experiências de sujeitos que se identificam com o gênero masculino. Trata-se de um dossiê que convoca a pensar criticamente, propor deslocamentos e construir outras formas de convivência, cuidado e justiça social nos mais diversos espaços-tempos educacionais.

A presente edição muito nos orgulha. Recebemos um número expressivo de artigos, submetidos por autoras/es de diferentes instituições. O processo avaliativo não foi fácil, contamos com diversos pareceristas de diferentes universidades. E o resultado de tour de force pode ser apreciado neste momento. Com isso, gostaríamos de agradecer aos que acreditaram na proposta e enviaram seus trabalhos, desejar uma boa leitura e torcer para que provoquem reflexões e novas publicações.

 

Leandro Teófilo de Brito (PPGE-UFRJ)

Paulo Melgaço da Silva Junior (PPGEAC-UNIRIO)

Dilton Ribeiro Couto Junior (ProPEd-UERJ)