ABORDAGENS E PRÁTICAS LGBTQ INCLUSIVAS NAS ESCOLAS EM PORTUGAL: ENTRE A MARGINALIZAÇÃO, A DESORIENTAÇÃO E O ASSIMILACIONISMO

Autores

DOI:

https://doi.org/10.14295/de.v8i1.11402

Resumo

Um pouco por todo o mundo ocidental multiplicam-se iniciativas e esforços para incluir temas relativos à diversidade de género e sexual nas políticas educativas e consequentemente nos currículos escolares. Contudo, muito pouco tem sido feito no sentido de averiguar o que se passa nas escolas, ao nível das práticas concretas e trabalho docente. Este artigo dedica-se a explorar as abordagens e práticas LGBTQ inclusivas nas escolas em Portugal, a partir de 14 grupos focais com 75 professores/as do ensino secundário. Argumenta-se que estas podem ser compreendidas a partir de três ideias fundamentais: marginalização, o que significa que estes temas tendem a ser secundarizados e invisibilizados; desorientação, com os/as professores/as a queixarem-se de falta de direção, conhecimentos, competências e formação, e assimilacionismo, com as poucas práticas concretas existentes a enveredarem por lógicas heteronormativas que comprometem uma inclusão crítica destes temas na educação.

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Biografia do Autor

Hugo Santos, Universidade do Porto

Hugo Santos é doutor em Ciências da Educação pelo FPCE-UP, onde atualmente é pesquisador. Em 2019, ganhou o prêmio "Prémio SPCE / De Facto Editores", dedicado aos melhores trabalhos na área de Ciências da Educação, com base em sua tese de doutorado sobre bullying homofóbico, direitos LGBTQ e educação sexual. Seus principais interesses de pesquisa são métodos qualitativos, gênero / masculinidades / LGBTQ / estudos queer, educação sexual, diversidade e discriminação, estudos para jovens, estudos sobre bullying e jogos sérios.

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Publicado

16-08-2020

Como Citar

Santos, H. (2020). ABORDAGENS E PRÁTICAS LGBTQ INCLUSIVAS NAS ESCOLAS EM PORTUGAL: ENTRE A MARGINALIZAÇÃO, A DESORIENTAÇÃO E O ASSIMILACIONISMO. Diversidade E Educação, 8(1), 259–283. https://doi.org/10.14295/de.v8i1.11402

Edição

Seção

Dossiê: Gênero, sexualidade e trabalho docente