IMAGENS: RESISTÊNCIAS E CRIAÇÕES COTIDIANAS

Autores

DOI:

https://doi.org/10.14295/remea.v0i0.11625

Resumo

Como existem imagens que são capazes de construir histórias também existem aquelas histórias motivadas a partir dos modos como as imagens foram produzidas ou nos atravessaram de sentidos. Ainda que aparentemente tautológico, o trocadilho produzido na primeira frase expõe questões conceituais aos estudos das imagens. Vários(as) autores(as), a exemplo de Jacques Rancière (2012), nos chamam a atenção para a compreensão de que a imagem seja entendida em sua expressão de alteridade. Esse percurso daria conta de evitar a simplicidade da visualidade e, com isso, a ideia de produção de representações da realidade. “[...] quando a imagem não é uma coisa, ela provoca o advento de alguém” (MONDZAIN, 2011, p. 106). A imagem pode aferir formas ao acontecido: ela produz aos/às olhantes a aparência que se faz emergir no lugar da ação política. Nessa lógica, a imagem pode se conformar como espaço da emergência do acontecido, ao mesmo tempo em que opera criações de cenas nas quais os modos de subjetivação são produzidos. Cada imagem se configura com a sua identidade singular que age fora das generalidades e apagamentos. Conjunções promotoras de visibilidade interacionam imagens, leituras e palavras fazendo emergir cena(s) em processos contínuos de subjetivação, por vezes denunciando mais enfaticamente seus ares políticos. A força criativa que a imagem possui de tornar visível a ausência sem produzir posições essencialistas ou verdades absolutas é o que faz com que Mondzain (2009) a veja como política. Ela encarna dimensões indissociáveis: o visível, o invisível e a visão daquele que se/a coloca em relação. Exatamente porque a imagem opera entre e com os sujeitos, estabelecendo aproximações, orientando diálogos e identificando potências políticas e criativas, que emerge nossas preocupações sobre os usos das imagens nas operações lideradas pelos movimentos e mobilização sociais populares. São também com elas que inúmeras experiências populares adquirem sobrevida sobretudo em momentos inestimáveis que contrastam silêncios e excessos antidemocráticos de governantes em suas alianças com o sistema capitalista. Quando vista como fonte de produção de conhecimento, a imagem assume dimensões ainda mais polissêmicas. As imagens de conflitos políticos, resistências populares e/ou desastres ambientais, a exemplo de Brumadinho, narram também as ausências, presenças e conservam a capacidade de leituras visuais novas porque trazem a autoria daquele que vê. O registro que se faz desafia o silêncio abundante que se impõe pela lógica operativa capitalista e elabora potências capazes de mobilizar subjetividades em torno de outros arranjos na vida e na luta pela democracia. A imagem da política associa-se neste dossiê aos modos como o audiovisual e a fotografia reconfiguraram regimes de visibilidade, potências de apresentação e questionamentos às ordens opressivas. Quando observamos a inúmeras violações aos direitos humanos no mundo percebemos que a expressão imagética se tornou, portanto, potente em difundir formas de compreensão de narrativas que disputam redes de significados em torno do acontecimento e de lutas políticas das populações que historicamente lutaram e lutam pelo aprimoramento e fortalecimento da democracia. Neste momento, mais do que nunca, precisamos reafirmar o direito ao pensamento crítico, à elaboração científica e à poética da existência imprescindível à vida. Emergido inicialmente dos diálogos de Marcio Caetano em seu pós-doc com Conceição Soares no Proped-UERJ, este dossiê na REMEA, com o qual se buscou reunir investigações que tinham a interface entre a Cultura Visual e os Movimentos e Mobilizações Sociais Populares como eixo de estudo, se fez acontecer em tessituras e registros ocorridos no Grupo de Pesquisa: Currículos, Narrativas Audiovisuais e Diferença e diante do gosto pelo trabalho coletivo, Nilda Alves se somou a organização do dossiê. Compreendendo as configurações políticas e sanitárias em que vivemos no Brasil diante da pandemia do COVID-19 que assola o mundo, e que mata os mais pobres, e das barbáries lideradas pelo Governo Bolsonaro que reiteram ataques contínuos à democracia e aos direitos conquistados por populações historicamente subalternizadas, que emergiu o dossiê IMAGENS: RESISTÊNCIAS E CRIAÇÕES COTIDIANAS. Ao recorrermos aos acontecimentos produzidos pelas mobilizações e movimentos sociais populares, buscamos com este dossiê uma história imagética construída de silêncios, existências (por vezes, fragmentadas), e resistências. Mais do que transformar a imagem em apêndice ao campo empírico, os 27 artigos de pesquisadores e pesquisadoras publicados neste dossiê entendem que a cultura visual também encontra sentido nas táticas políticas e questionamentos cotidianos feitos pelos Movimentos e Mobilizações Sociais Populares às desigualdades ambientais que nos atormentam frente a complexidade que envolve a pandemia da COVID-19 e o recrudescimento das forças neoconservadoras e neoliberais. Desse modo, ao problematizar a dimensão visual, este dossiê reuniu artigos que abordaram, amparados nas múltiplas possibilidades teórico-metodológicas de estudos, a cultura visual e seus usos políticos, éticos e estéticos aos enfrentamentos cotidianos encampados pelos Movimentos e Mobilizações Sociais Populares aos ataques à democracia e aos direitos conquistados na atualidade pelas populações historicamente subalternizadas. Em companhia de pessoas amigas que ousaram estar conosco neste dossiê, lhes fazemos o convite ao diálogo. REFERÊNCIA MONDZAIN, Marie-Jos. A imagem pode matar?. Lisboa: Nova Vega, 2009. RANCIÈRE, Jacques. O destino das imagens. São Paulo: Contraponto, 2012.

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Biografia do Autor

Nilda Guimarães Alves, Faculdade de Educação/UERJ

Professora titular na Faculdade de Educação/UERJ e Faculdade de Educação/UFF (aposentada em ambas). Atualmente, é Pesquisadora visitante sênior da Faperj, atuando na UERJ, no Programa de Pós-graduação em Educação (campus Maracanã) e no PPGE-Processos Formativos e Desigualdades Sociais (câmpus S. Gonçalo). Ex-presidente da ANPEd (Associação Nacional de Pós-graduação e Pesquisa em Educação), da ANFOPE (Associação Nacional pela Formação dos Profissionais da Educação), da ABdC (Associação Brasileira de Currículo) e da ASDUERJ (Associação dos Docentes da UERJ). Organizadora de livros, séries e coleções, com artigos publicados no Brasil e no exterior. Fundadora, em 2001, e coordenadora, até 2014, do Laboratório Educação e Imagem/ProPEd/UERJ (www.lab-eduimagem.pro.br), no qual continua atuando. Trabalha em pesquisas com os cotidianos, articulando currículos, redes educativas, imagens, sons e formação de docentes

Marcio Caetano, Universidade Federal de Pelotas

Pós-doutor em Currículo e Narrativas Audiovisuais, com apoio do PNPD-CAPES, no Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) e sob supervisão da Profa. Dra. Conceição Soares. Coordenador do Centro de Memória LGBTI João Antônio Mascarenhas (UFPEL/FURG/UFES/UFOB). Graduado em História pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), com mestrado e doutorado em educação pela Universidade Federal Fluminense (UFF). Como parte dos estudos de pós-graduação, realizou estágio no Programa de Estudios Feministas do Centro de Investigaciones Interdisciplinarias en Ciencias y Humanidades da Universidad Nacional Autónoma de México (CEIICH- UNAM). Docente na Universidade Federal de Pelotas (UFPEL), orienta investigações desenvolvidas nos Programas de Pós-graduação em Educação e em Educação em Ciências da Universidade Federal do Rio Grande (FURG). Os seus temas de interesse e pesquisa são: 1. currículos e culturas; 2. masculinidade(s) e 3. população lésbica, gay, bissexual, travesti e transexual e 4. estudos decoloniais e subalternos.

Maria da Conceição Silva Soares, Universidade do Estado do Rio de Janeiro - UERJ

Professora Adjunta da Universidade do Estado do Rio de Janeiro - UERJ, na Faculdade de Educação e no Programa de Pós-Graduação em Educação - PROPED. Graduada em Comunicação Social pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (1978) e em Ciências Sociais pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (1985). Doutora (2008) e Mestre (2003) em Educação pela Universidade Federal do Espírito Santo. Pós-doutora em Educação e Imagem na Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). Pesquisadora do Laboratório Educação e Imagem. É Procientista (UERJ) e Cientista Nosso Estado (FAPERJ). Atuou como consultora da Secretaria de Educação do Estado do Espírito Santo, como especialista em Sociologia na reformulação dos currículos do Ensino Médio. Tem interesse principalmente pelos seguintes temas: cotidianos, currículos, narrativas audiovisuais, subjetividades, gênero, sexualdade e diferença. É líder do Grupo de Pesquisa CNPq Curriculos, Narrativas Audiovisuais e Diferença.

Referências

MONDZAIN, Marie-Jos. A imagem pode matar?. Lisboa: Nova Vega, 2009.

RANCIÈRE, Jacques. O destino das imagens. São Paulo: Contraponto, 2012.

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Publicado

2020-07-01

Como Citar

Alves, N. G., Caetano, M., & Soares, M. da C. S. (2020). IMAGENS: RESISTÊNCIAS E CRIAÇÕES COTIDIANAS. REMEA - Revista Eletrônica Do Mestrado Em Educação Ambiental, 37(2), 04–07. https://doi.org/10.14295/remea.v0i0.11625

Edição

Seção

Dossiê IMAGENS: RESISTÊNCIAS E CRIAÇÕES COTIDIANAS (FIM)