A importância do brincar na hospitalização pediátrica: um relato de experiência

Autores

  • Bruna Lima Selau UFRGS
  • Gabriela Machado Padilha Mattiello UFRGS
  • Adriano Tusi UFSM

Palavras-chave:

Brincar, Lúdico, Recreação

Resumo

As crianças que precisam passar por um período de hospitalização acabam enfrentando o estresse da doença e dos procedimentos invasivos, como a necessidade de se adaptar as novas rotinas, confiar em pessoas desconhecidas, receber injeções e outros tipos de medicação. Além disso, é preciso passar por dificuldades e obstáculos na sua vida social, como a restrição do convívio social, afastamento da família e dos amigos, ausências escolares e aumento da angústia e tensão familiares. Esse quadro torna-se pior e mais estressante em pacientes com doenças crônicas, que precisam internar-se frequentemente e por períodos mais longos, agravando os problemas gerados pela hospitalização. (MOTTA, 2004) De acordo com a Constituição Federal promulgada em 1988, no Brasil, as políticas públicas de saúde orientam-se pelos princípios da universalidade, da integralidade do atendimento e da participação da comunidade. O conceito de integralidade do atendimento está vinculado à humanização, ou seja, um cuidado com o paciente e suas necessidades como foco do trabalho e não mais centrado na doença, acarretando em um cuidado integral de acordo com a necessidade de cada sujeito. Essas implicações da hospitalização, e esses prejuízos gerados principalmente pela hospitalização prolongada, demonstram a necessidade de desenvolver trabalhos que promovam a humanização da instituição hospitalar, garantindo um cuidado integral e humanizado. Entre as estratégias para a humanização do cuidado, tendo em vista às necessidades da criança, está o brincar, que é utilizado no hospital de forma terapêutica para o enfrentamento da hospitalização, além de ser uma atividade na qual a criança desenvolve-se cognitiva, motora e socialmente. As atividades lúdicas, como o brincar, vem sendo implantadas nos hospitais por meio da recreação terapêutica realizada em salas com brinquedos e espaçoslúdicos para as crianças utilizarem durante a internação sob a supervisão de um profissonal capacitado. Entre os benefícios está a utilização do brinquedo como recurso capaz de proporcionar às crianças atividades estimulantes e divertidas e que tragam calma e segurança. Assim, essas atividades apresentam-se a como estratégia cognitivo-comportamental, por meio das quais a criança consegue ter uma autonomia mínima com relação à situação a ser enfrentada. Além disso, por meio do brincar, a criança reproduz experiências cotidianas no espaço hospitalar e a oportunidade de brincar com outras crianças a aproxima ainda mais daquele contexto. Diferentes relatos de experiência têm abordado os efeitos positivos de brincar no hospital, sendo citados como exemplos: recrear, amenizar o sofrimento hospitalar, favorecer a comunicação e a expressão dos sentimentos das crianças, entre outros. (MOTTA, 2004) Tendo em vista a importância do brincar no contexto hospitalar, o presente estudo consiste em um relato de experiência sobre o trabalho dos Profissionais de Educação Física na recreação pediátrica do Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA). O Serviço de Educação Física e Terapia Ocupacional (SEFTO) conta com uma sala de recreação equipada com diversos brinquedos, jogos, espaços de lazer (televisão, DVDs, vídeo game, computadores), materiais para exercício físico, materiais para oficinas (pintar, desenhar, dobraduras, artesanato) e um espaço para os bebês com brinquedos próprios. Além disso, o espaço possui como recursos humanos profissionais contratados, residentes multiprofissionais e estagiários em Educação Física. A partir do trabalho desenvolvido na recreação terapêutica pediátrica do HCPA, foi observado que esta atividade tem auxiliado no enfrentamento da hospitalização das crianças. É brincando que as crianças criam laços com outras crianças, tornando a hospitalização mais próxima das atividades cotidianas, oportunizando diversão, alegria, socialização e principalmente ajudando no combate do estresse causado pela internação e por seus procedimentos invasivos, pois possibilita a recuperação da autonomia, uma vezque o brincar é o único momento no qual ela pode escolher e tomar decisões quanto ao que tem vontade e gosta de fazer, além de proporcionar um melhor desenvolvimento social, cognitivo e motor. Além disso, cria-se um vínculo importante tanto entre os pacientes internados por longos períodos de tempo com a equipe de recreação, o que ajuda as crianças a enfrentar suas angústias, partilhando-as com outras pessoas. A recreação também serve para unir e recriar laços entre os familiares, laços esses que podem ficar afetados pelos problemas gerados em razão da doença e da hospitalização. É na sala de recreação que os pais podem brincar com seus filhos, conhecê-los melhor e se divertirem com eles, fortalecendo os vínculos que devem estar presentes na relação pais-filhos, mas que, na maioria das vezes, não se encontram fortalecidos pelo pouco contato entre eles, tanto em função da hospitalização quanto dos problemas sociais e do cotidiano. Através da recreação problemas psicossociais podem ser percebidos mais facilmente, pois é por meio do brincar que a criança consegue expor mais espontaneamente seus sentimentos e medos, ocultos, muitas vezes, no diagnóstico médico pela falta de diálogo e de aproximação entre a equipe e a criança. Uma vez que, ao brincar a criança manifesta, mesmo sem querer, muito de sua personalidade e de suas dificuldades, torna-se mais visível se esta sofreu alguma forma de abuso ou outras situações de maus tratos e negligências. Diante disso, percebemos que a recreação terapêutica vem funcionando como uma forma efetiva de enfrentamento na hospitalização de crianças, visto que o brincar tem proporcionado alegria, diversão, socialização, auxílio no desenvolvimento da autonomia do paciente, além de recriar vínculos com familiares e gerar uma melhora no desenvolvimento social, cognitivo, e motor.Dessa forma, ressalta-se a importância do Educador Físico no ambiente hospitalar e como parte integrante da equipe multiprofissional em prol de um cuidado humanizado e integral; contribuindo de forma decisiva para uma melhor qualidade de vida do paciente durante o seu período de internação.

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Biografia do Autor

Bruna Lima Selau, UFRGS

Acadêmica de Educação Física da Universidade Federal do Rio Grande do Sul – UFRGS.

Gabriela Machado Padilha Mattiello, UFRGS

Acadêmica de Educação Física da Universidade Federal do Rio Grande do Sul – UFRGS.

Adriano Tusi, UFSM

Graduação em Educação Física pela Universidade Federal de Santa Maria – UFSM.

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Publicado

02-09-2015

Como Citar

Selau, B. L., Mattiello, G. M. P., & Tusi, A. (2015). A importância do brincar na hospitalização pediátrica: um relato de experiência. Revista Didática Sistêmica, 16(1), 433–436. Recuperado de https://periodicos.furg.br/redsis/article/view/5269

Edição

Seção

Resumo Expandido - GTT Saude