Mbabuçú Oiconê: a profecia de Felicitas, tempo e história nas reduções do Paraguai
DOI:
https://doi.org/10.14295/rbhcs.v10i19.494Palabras clave:
Guarani. Tempo. MissõesResumen
Este artigo tem por finalidade expor um ensaio sobre a concepção de tempo elaborada por indígenas das reduções do Paraguai no século XVIII. Naquele contexto, especialmente na metade daquele século, houveram inúmeros conflitos entre indígenas guaranis e militares ibéricos que faziam a demarcação de novas fronteiras coloniais estabelecidas entre Portugal e Espanha, fato que contou com grande resistência indígena. Tudo aquilo em decorrência do Tratado de Madrid que alterava dramaticamente a geografia da província do Paraguai a ponto de exigir dos guaranis que evacuassem sete povoações que seriam entregues aos portugueses. Aquele episódio foi visto pelos guaranis como uma grande catástrofe, visto que teriam que deixar para trás suas comunidades. Durante o período de demarcação, o jesuíta Bernardo Nusdorffer foi encarregado de organizar o translado dos indígenas à parte colonial espanhola. Em meio a guerra e ao grande número de indígenas mortos, Nusdorffer se utilizou de uma profecia feita por uma velha guarani, em 1733, para interpretar aqueles acontecimentos. Seu nome era Felicitas, a quem Nusdorffer havia conhecido pessoalmente; mulher que teria feito um terrível prognóstico sobre o futuro das reduções. Este relato, recuperado pelo jesuíta, serve de matéria prima a este artigo. Através de algumas noções do paradigma indiciário de Carlo Ginzburg, ou seja, do catálogo de indícios, o texto busca apresentar um modelo interpretativo para a noção de tempo que teria permitido à Felicitas elaborar um esquema de projeção de futuro capaz de oportunizar a previsão de acontecimentos.
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