Revista Brasileira de História & Ciências Sociais

O Massacre dos Mucker

Alexandre de Oliveira Karsburg — 2023-01-19

Um manuscrito torna-se o ponto de partida de uma pesquisa minuciosa feita pelos historiadores João Biehl e Miquéias Mügge, em livro intitulado “Escritos perdidos”, que narra a vida e a obra de um imigrante germânico chamado Johann Georg Klein (1822-1915). O livro é dividido em quatro capítulos, com um prólogo e um epílogo. No prólogo, os autores narram como chegaram até o manuscrito de Johann Georg Klein – intitulado Vom Katechismus, perdido por mais de um século e que estava de posse dos descendentes do historiador Leopoldo Petry. Nas páginas finais do livro, um conjunto de cartas escritas pelo personagem e por ele redigidas em nome da líder Mucker Jacobina Mentz Maurer e de sua irmã Carolina Mentz. A obra ainda é repleta de mapas, fotografias, litografias, reprodução de cartas, trazendo qualidade e informação ao texto muito bem construído.

Expediente RBHCS 29

Editores FURG — 2023-01-19

Os mortos nas fronteiras do tempo: narrativas de católicos do Cariri cearense

Joaquim dos Santos — 2023-01-19

Este trabalho apresenta reflexões sobre crenças religiosas dedicadas às aparições dos mortos no mundo terreno e seus trânsitos no além cristão. O estudo problematiza a presença dos mortos nas memórias orais de idosos católicos residentes nos espaços urbanos e rurais da região do Cariri cearense. Desenvolvida a partir da metodologia da história oral, a pesquisa problematiza focos narrativos a respeito dos mortos situados nas fronteiras de ritos de passagens. A partir das sensibilidades dos narradores, este artigo dá destaque às crianças pagãs, aludindo suas formas de superar as fronteiras entre o mundo terreno e o além cristão.

Oliveira Vianna e a classe trabalhadora

Victor Hugo Criscuolo Boson — 2023-01-19

O artigo tem como objetivo analisar três representações acerca da classe trabalhadora brasileira, presentes em Direito do Trabalho e Democracia Social, coletânea de textos de autoria de Oliveira Vianna, e interpelá-las como artifícios funcionais ao processo de justificação de um modelo de regulação jurídica do trabalho ideologicamente associado ao aprofundamento do autoritarismo e do capitalismo no Brasil. Para isso, analisa a recepção das representações de um povo pacífico, insolidário e avesso à luta de classes na revista Cultura Política (1941-1943), interpelando como as descrições são articuladas normativamente e demarcam ideias-forças operacionalizadas na institucionalidade do campo jurídico trabalhista brasileiro, inclusive em sua atualidade.

A dinâmica de ocupação da Colônia Guaporé através dos agentes consulares italianos – sul do Brasil – 1892-1910

João Carlos Tedesco — 2023-01-19

Buscamos analisar o processo de fundação e ocupação da Colônia Guaporé no sul do Brasil baseados nos relatórios e boletins que registram a situação das colônias italianas no Rio Grande do Sul, escritos pelos cônsules italianos estabelecidos ou em visita ao estado. Esses materiais apresentam, de forma detalhada, os processos de efetivação dos imigrantes nos lotes coloniais, a atração que, especificamente, a Colônia Guaporé exercia sobre os imigrantes e seus filhos já estabelecidos em outras colônias oficiais de imigração. As referidas fontes contêm um universo amplo de informações que contemplam todas as colônias de imigração italiana já efetivadas no estado e, em particular, a ocupação da última colônia oficial de imigração italiana no estado, Guaporé. Concluímos que a Colônia Guaporé serviu também para resolver um problema que era a pressão social pela terra; que não obteve a adesão esperada de imigrantes italianos e, mesmo com os limites da infraestrutura e geográficos, demonstrou ser expoente em termos econômicos.

Usos peronistas do passado nas comemorações do primeiro de maio e do 17 de outubro (Buenos Aires, 1962-1965)

Andrés Nicolás Funes — 2023-01-19

Este artigo examina os usos do passado por actores peronistas individuais e organizacionais na Argentina nos anos 60. Especificamente, as representações elaboradas para duas datas-chave na sua tradição política: o Dia de Maio e o "17 de Outubro", entre 1962 e 1965. Através de publicações político-partidárias e jornais nacionais e provinciais, investigamos as comemorações e os significados elaborados num período de especial significado para o Peronismo no início dos anos 60. A proscrição política de Juan Domingo Perón foi combinada com oportunidades de participação dos chamados partidos "neoperonistas" e com o poder renovado do sindicalismo peronista. Este contexto permeou os retornos dos actores à "história do peronismo". Qualquer regresso ao passado implica uma irrupção do presente. Não se trata de uma inovação completa. Pelo contrário, as representações e os seus significados são condicionados pelas lutas políticas precedentes.

Divulgação Científica e Institucionalização da Medicina

Eder Mendes de Paula — 2023-01-19

O presente texto apresenta alguns resultados de pesquisa, focados na publicação Arquivos de Saúde Pública, da Secretaria Estadual de Saúde de Goiás. A problematização central é entender como se articulam a divulgação científica e a institucionalização da medicina em Goiás através da revista. Neste sentido, outros pontos como a identidade dos médicos, a medicalização do comportamento do sertanejo e a exploração do cerrado no século XX, são abordados como reverberações das políticas de saúde que aparecem nos textos da revista Arquivos de Saúde Pública.

Esclavizadas y “cosificadas”. Las mujeres angolas en Xalapa, Veracruz, México, siglo XVII

Luis J. Abejez — 2023-01-19

Entre los siglos XV y XIX, millones de mujeres africanas fueron esclavizadas y trasladadas a América en contra de su voluntad. La historiografía sobre la esclavitud y la trata de este periodo es amplia, pero sus historias apenas se conocen al quedar soterradas en el marco de fenómenos históricos considerados fundamentalmente masculinos. En las últimas décadas, la influencia del feminismo en la investigación histórica y el creciente interés por la microhistoria han promovido este tipo de estudios. Este artículo pretende aproximarse a las mujeres negras esclavizadas, “cosificadas” y “mercantilizadas” en Xalapa (México) en los siglos XVI y XVII por medio del estudio de un grupo de estas mujeres denominadas “angolas” mencionadas en documentos notariales coetáneos, y con el ejemplo de una de ellas. Los resultados son una ventana a sus vivencias personales y colectivas, y muestran su integración por la fuerza en la sociedad novohispana.

Registros emocionales y moralidades de género. Los juicios por “malos tratos” desde una perspectiva comparada (Virreinato del Río de la Plata)

Lia Quarleri — 2023-01-19

Este trabajo parte de denuncias judiciales de “malos tratos”, realizadas en dos jurisdicciones distintas del Virreinato del Río de la Plata, Buenos Aires y San Juan de la Frontera, a fines del siglo XVIII y comienzos del XIX. Las acusaciones se centran en las violencias ejercidas por maridos a mujeres, pertenecientes a sectores sociales contrastados de la estructura colonial. A partir del diálogo entre ambos casos, se analizarán los tratamientos judiciales y las estrategias desplegadas. También, se indagará en las percepciones del daño sobre un tipo de violencia patriarcal, en particular: los “castigos correctivos”. Interesa dar cuenta de las herramientas sociales y jurídicas utilizadas, por las demandantes y los acusados, reparando en la apelación a registros emocionales y códigos de honor, modelos sociales y figuras jurídicas, con el fin del mostrar el rol de estas en la valoración judicial de los malos tratos denunciados.

Imagens de controle, “Maria”, “Eva” e “Salomé”

Elynaldo Dantas — 2023-01-19

Buscamos neste artigo analisar como o político-intelectual Gustavo Barroso, em meados da década de 1910, operacionalizou discursivamente certas imagens de controle sobre a mulher brasileira (in)desejada para o seu projeto de nação, com o objetivo de reforçar determinados roteiros sociais marcados pela opressão interseccionada de gênero, classe e raça, participando assim da edificação da estrutura que historicamente silencia, desumaniza e suprime esse outro bem específico da sociedade brasileira que quer se dizer e se fazer ver branca-patriarcal e eurocentrada: as mulheres.

Cartografias de Mulheres na Prostituição

Luciana Codognoto — 2023-01-19

Nesta pesquisa, buscamos narrar às histórias de vida de mulheres adultas que se prostituem em um município interiorano e de pequeno porte populacional, localizado na região sudeste do Estado de Mato Grosso do Sul (MS). Para mapearmos as experiências vividas por essas diferentes mulheres na prostituição, recorremos à abordagem qualitativa de pesquisa em Psicologia, sustentada pelos aportes teóricos dos Estudos Culturais e Queer e pelo método da análise do discurso, de Michel Foucault. A cartografia e a observação participante nos auxiliaram nas atividades de campo e na realização de entrevistas de longa duração com 10 (dez) mulheres que atuavam em diferentes territórios/espacialidades da prostituição da cidade, como bares, casas e ruas. Diversos fatores contribuíram para a entrada e a permanência de nossas participantes na prostituição, em especial os episódios recorrentes de violências estruturais e de gêneros, vividos da infância à idade adulta.

Feminicídio e humilhação de gênero

Márcio Ferreira de Souza — 2023-01-19

O artigo parte da noção de humilhação como ação racionalmente orientada, isto é, como práticas de assujeitamento e degradação moral e/ou física de pessoas individuais e coletivas que resultam em processos de humilhação, como o feminicídio. O percurso analítico-argumentativo alude a alguns casos históricos de feminicídio no Brasil em diferentes períodos e ao Memorial de Feminicídios de Londrina, produzido pelo Néias – Observatório de Feminicídios, com registros de tentativas de feminicídios e de casos de concretização do ato, no intervalo entre 2015 e 2022, ocorridos na comarca de Londrina. São casos reveladores de uma situação mais genérica em relação a todo o país. Argumentamos que a despeito de uma suposta aleatoriedade, tais casos estabelecem fortes conexões entre si, pois são expressão de uma estrutura hierarquizante, estabelecida por relações assimétricas de poder simbólico e legitimadora das situações concretas de violações, degradações e extermínios dos corpos femininos.

A Educação Popular como método feminista de denúncia e (re)construção da realidade de mulheres no campo: um estudo de caso

Celso Gabatz — 2023-01-19

As vivências das mulheres no decorrer da história da humanidade têm sido atravessada por muitas interlocuções, algumas bastante drásticas, sobretudo, em relação às violências e aprisionamentos de seus corpos. Neste sentido, a presente abordagem se propõe a refletir sobre o lugar dos corpos das mulheres na contemporaneidade. Busca-se, para tanto, demandar uma análise de grupos de mulheres camponesas nas regiões Fronteira Noroeste e Missões do Estado do Rio Grande do Sul (Brasil). Estas, a partir de um processo de educação popular, foram desafiadas a acessar políticas públicas governamentais. Para melhor descortinar esta caminho é utilizada a metodologia feminista que prima por desconstruir estereótipos femininos e analisar criticamente as realidades postas. O artigo acentua que a trajetória dos movimentos feministas e de mulheres criou uma metodologia de reflexão e de prática que condiz com os processos de educação popular e têm sido fundamentais para a geração de consciência crítica e a efetivação de ações práticas contra o capital e o patriarcado, criando espaços de libertação para as mulheres camponesas.

Apresentação do Volume 14 Número 29 da Revista Brasileira de História & Ciências Sociais

Denize Terezinha Leal Freitas — 2023-01-19

Corpos femininos livres, escravizados ou submissos de diversos tempos e espaços

Eliane Cristina Deckmann Fleck — 2023-01-19