Sobre o “funesto hábito” da masturbação infantil: uma análise discursiva da vigilância, perseguição e dos mecanismos de controle das práticas onanistas em dois manuais médicos publicados no Brasil, Século XIX
DOI:
https://doi.org/10.14295/rbhcs.v14i28.13965Palavras-chave:
História da Infância, Sexualidade, Onanismo, DoençaResumo
O artigo tem por objetivo apresentar uma análise dos discursos sobre os perigos do onanismo infantil que foram registrados em dois manuais médicos do século XIX. Tratar-se-iam das obras francesas Lettres sur les dangers de l'onanisme (1813) e Onanisme, seul et à deux (1883). Tais impressos foram traduzidos para o português e direcionados à mocidade brasileira, a partir da constatação de que o vício diário da masturbação seria causa de enfermidades, cujos efeitos poderiam, até mesmo, causar a morte. A análise empreendida revela “os signaes pelos quaes se podem conhecer os rapazes que se dão a esta infame manobra”, os significados morais atribuídos para este “vício” e todo o aparato disciplinador, que minuciosamente instruía à ativa vigilância, ao uso de interrogatórios e de castigos, além de intervenções mais severas que incluíam restrições alimentares, regulações físicas, contenções mecânicas, ingerência de remédios e cirurgias médicas.
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