Para uma arqueologia da verdade estatística:
reflexões a partir do projeto de reforma educacional de Rui Barbosa (1882)
DOI:
https://doi.org/10.14295/rbhcs.v13i25.11938Palavras-chave:
sócio-história da quantificação, estatísticas escolares, , história da educação, pensamento social, Rui BarbosaResumo
O presente artigo analisa o estilo de raciocínio estatístico desenvolvido por Rui Barbosa em seu projeto de reforma educacional, publicado em 1882. Inspirado no utilitarismo liberal, o parecer faz uma defesa pioneira da modernização escolar e da centralização dos serviços de estatística, como forma de fortalecer a opinião pública. Entretanto, o argumento de modernização se baseia na tradição de estimativas populacionais, fundadas no prestígio pessoal de seu autor, relegando ao segundo plano as estatísticas oficiais, certificadas pelo Estado. Examina-se as razões dessa aparente contradição, propondo como hipótese a coexistência de dois regimes de verdade – a aproximação por estimativas e o realismo censitário -, o que permite compreender o sentido da associação entre estatística e educação e as formas de raciocinar e intervir com números ao fim do Império.
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