Qualificados novos por estarem a dois meses no território do Brasil e não saberem falar nada a língua portuguesa: Charqueadas e tráfico ilegal de africanos (Bahia – Pelotas - Brasil meridional, 1834)

Autores

Palavras-chave:

escravidão, tráfico internacional de escravos, charqueadas.

Resumo

Em 7 de novembro de 1831 foi promulgada uma lei antitráfico pelo governo imperial brasileiro, pressionado internacionalmente pelos poderosos britânicos. Essa lei gerou uma crescente ânsia dos escravistas brasileiros por novos africanos escravizados, fazendo com que o tráfico transatlântico se intensificasse nos anos seguintes. Nesse período, as charqueadas sul-rio-grandenses passavam por uma fase de aumento da produção e da consequente exportação e importação via porto de Rio Grande. Como a província de São Pedro do Rio Grande do Sul não comercializava diretamente com a costa africana, suas elites eram dependentes de redes comerciais e sociais com grupos mercantis principalmente do Rio de Janeiro, Pernambuco e Bahia, que os mantinham abastecidos de mão de obra cativa e consumiam o charque aqui produzido. Trataremos nesse artigo de um desembarque ocorrido em 1834 no porto de São José do Norte, de 24 africanos novos e duas crioulas cabras, encontrados a bordo do bergantim Prazeres. O navio pertencia a Antônio José de Oliveira Castro, um dos maiores charqueadores da região de Pelotas (RS) e vinha da Bahia. Os 24 africanos novos foram reconhecidos como importados ilegalmente e as duas crioulas denunciaram para as autoridades que tinham sido enganadas e reescravizadas, sendo já forras. O caso nos permite perceber os sistemas comerciais escravistas interprovinciais e o envolvimento de charqueadores e das autoridades judiciárias imperiais no combate e/ou manutenção do tráfico ilegal de africanos escravizados.

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Biografia do Autor

Paulo Roberto Staudt Moreira, Universidade do Vale do Rio dos Sinos (UNISINOS)

Professor titular da Universidade do Vale do Rio dos Sinos. Possui graduação em História pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos, mestrado em História pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (1993), doutorado em História pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (2001) e pós-doutoramento na Universidade Federal Fluminense. Exerceu o cargo de Coordenador do Programa de Pós-graduação em História da Universidade do Vale do Rio dos Sinos de 2010 a 2014. Membro da Comissão de Avaliação Quadrienal de PPGHs - CAPES (2013/2016). Bolsista de Produtividade em Pesquisa do CNPq - Nível 2 (2010/atual). Membro do Comitê de Ciências Humanas e Sociais da FAPERGS: Coordenador (2019-2021), membro (2017-2019), suplente (2015-2017). Na ANPUH - Associação Nacional de História - Núcleo RS - foi: Diretor-presidente (2016/2018), Vice-presidente (2002/2004 e 2014/2016), 2º Tesoureiro (2018/2020), Conselheiro (2000/2002), 1º Tesoureiro (1998/2000 e 1996/1998). Tem experiência na área de História, com ênfase em História do Brasil Colônia e Império, atuando principalmente nos seguintes temas: História da escravidão e do negro; História social dos movimentos populares; Identidade étnica; História urbana no século XIX; Raízes e presença africana na América Latina; associativismo negro; saúde e doença; Patrimônio histórico documental; arquivos pessoais & coleções, lugares de memória.

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Publicado

2020-02-01

Como Citar

Moreira, P. R. S. (2020). Qualificados novos por estarem a dois meses no território do Brasil e não saberem falar nada a língua portuguesa: Charqueadas e tráfico ilegal de africanos (Bahia – Pelotas - Brasil meridional, 1834). Revista Brasileira De História & Ciências Sociais, 11(22), 133–161. Recuperado de https://periodicos.furg.br/rbhcs/article/view/10865