"The Water Cure", de Sophie Mackinstosh: poética e política da multiperspectividade na ficção neodistópica
Resumo
Se o narrador onisciente é predominante na distopia clássica, e a narração em primeira pessoa figura como um traço marcante de notáveis distopias críticas, há substanciais evidências para afirmar que o recurso das múltiplas perspectivas narrativas, ou multiperspectividade, pode ser considerado uma importante característica das narrativas neodistópicas. Nesse tipo de ficção haveria uma tendência a não apresentar qualquer perspectiva privilegiada (ainda que haja hierarquias), de modo que até mesmo as protagonistas, que sofrem as opressões e lutam contra o poder hegemônico (ou algo equivalente ao poder hegemônico), só conseguem capturar fragmentos de um sistema que nunca se revela por completo. Diante disso, com base nas teorizações de Ansgar Nünning e Vera Nünning (2000), Christoph Bode (2011) e Marcus Hartner (2014) sobre multiperspectividade, Ildney Cavalcanti (2003, 2021), Lyman Tower Sargent (2003) e Tom Moylan (2016) sobre utopismo e distopia, o presente artigo tem como objetivo analisar o romance The Water Cure (2018), de Sophie Mackintosh, e refletir sobre os efeitos estéticos e políticos da multiperspectividade na ficção neodistópica.