POR UMA POÉTICA DA QUEDA:
AVALOVARA EM DIÁLOGO COM A DIVINA COMÉDIA
Resumo
Em Avalovara (1973), Osman Lins se apropria de símbolos do imaginário bíblico e mítico em diálogo com
A divina comédia (1304-1321), de Dante Alighieri. Anotamos as interseções das tramas e dos temas, as
concepções do mundo antigo e as ressonâncias de ordem existencial. São três os amores do protagonista
Abel e três as partes em que se divide a Commedia: ao “Inferno”, “Purgatório” e “Paraíso” correspondem
as alegóricas Cecília, Roos e , a partir do que propomos como a poética da Queda à luz da doutrina de
Jean-Paul Sartre: a falta que mobiliza o “ato de buscar”, ou seja, o apelo capital do homem moderno. Ao
aderir ao horizonte de banimento, ruptura e exílio, Avalovara parte do “Gênesis” bíblico como núcleo
irradiador de símbolos e da investigação do nascimento da linguagem, para delinear um tempo atravessado
por instabilidades e incertezas, segundo a radicalidade sartriana da liberdade e da angústia como condição
da existência.