Uma memória transnacional da tortura em La Noche de Los Lápices: olhares epistemológicos sobre o cinema-história entre o representável e o irrepresentável
Resumo
O objetivo deste artigo é compreender como o representável e o irrepresentável são pensados na constituição de uma ficção cinematográfica que aborda a memória da tortura. Embasamos nossa argumentação a partir de um filme sobre a ditadura civil-militar argentina (1976-1983) que apresenta imagens de tortura física e psicológica: La noche de los lápices (1986), de Héctor Olivera. A discussão sobre o irrepresentável se origina em torno do Holocausto. Nesse sentido, discutimos o estudo em Georges Didi-Huberman e em Jacques Rancierè que problematizam a questão do representável na produção de imagens desse acontecimento traumático. A partir desse entendimento, compreendemos que a aproximação com a prática sistemática da violência durante a ditadura argentina suscita uma reflexão sobre a tortura na ficção. Assim, a partir das contribuições de Andreas Huyssen sobre memória transnacional, examinamos imagens da tortura produzidas na obra cinematográfica La noche de los lápices e sua possível representabilidade enquanto memória cultural. Constata-se que nessa ficção, a representação da tortura se dá pela identificação de uma memória cultural transnacional que enseja e institui-se a partir de conexões da violência e das histórias traumáticas representadas em uma relação entre a realidade e o imaginário.